Lendo de cabeça para baixo (resenha)



“Lendo de cabeça para baixo” conta a história de Ros, uma mulher que basicamente entrou em colapso e depressão depois que seu noivo fugiu pela janela da igreja assim que ela chegou às portas no dia do casamento.

Ninguém sabia respostas, uma explicação não vinha de nenhum lugar e enquanto isso ela se afogava em garrafas de vinho e reprises de péssimos programas na televisão. Quando um amigo oferece para ela a chance de ser coproprietária de uma livraria no interior, ela aceita, talvez enxergando uma chance de recomeçar, ou pelo menos morar em um lugar onde ninguém saiba de sua trágica história.

É nessa cidade que somos apresentados aos personagens importantes da trama. Andrew, o seu sócio, bonito, reservado e acolhedor; Joan, a senhora linguaruda que adora falar de coisas picantes; George, uma mãe e esposa dedicada e mulher incrível e Daniel, o vizinho de quintal que matou o porquinho da índia de Ros com o cortador de grama por acidente.

“Lendo de cabeça para baixo” é um livro que fala sobre alguém começando de novo, precisando desconstruir hábitos, uma ideia que fez de si mesma, superar seu passado e parar de viver de autopiedade. Foras motivos como esses que me atraíram até ele, sou muito fã de temáticas como essa. Porém, mesmo que Ros tenha sido bem sucedida que restabelecer sua vida, parar de usar roupas horríveis propositalmente e planejar e ansiar pelo seu amanhã, falhou em muitos outros aspectos que pesaram muito mais para mim.

Na marca de 60% do livro ainda não há nenhum romance ou interesse amoroso para a protagonista. E então você começa a questionar se realmente haverá, pois o começo pareceu insinuar que teria lá em seus primeiros encontros com o vizinho Daniel. Clássico, clichê.

E sim, o romance acontece. Mas bem tardiamente, e sem um bom desenvolvimento, com um personagem que também não teve a sua persona explorada e desenvolvida, era apenas uma forma pronta de galã. Seus encontros pareciam bem previsíveis, no sentido “precisa acontecer porque esse cara precisa aparecer e interagir com ela”, mesmo junto aos outros amigos de Ros ele parecia deslocado do contexto, e sua personalidade me pareceu bem inconveniente, mal educado e intrometido várias vezes. Além do fato de quando suas palavras e ações induziram culpa em Ros.

Existia um outro personagem masculino que teve muito mais cenas e pertença à história, foi apresentado, explorado e fez o leitor se sentir ligado a ele e gostar dos momentos que ele tinha junto a Ros, da química existente, da ligação íntima que eles criavam. Ele poderia ter sido uma opção muito melhor de um parceiro romântico para a protagonista, mas os planos da autora não foram esses. O pensamento dela incluía lança-lo em outro caminho, um amor por outra pessoa, que tomou o espaço de alguns capítulos e cenas, e ao fim não teve sua devida conclusão.

E, não posso deixar de mencionar, de como as ações dele ficaram exponencialmente menos atraentes, interessantes e másculas ao longo da história. Ele foi de um “homão” para um garotinho que não consegue tomar atitude com quem gosta, e amigo gay que antes era muito presente mas foi sumindo e sumindo.

A impressão que me passou foi a de que a autora não soube lidar com os próprios personagens que criou, e para resolver, fechar o ciclo do enredo do livro precisou reduzir a participação dos coadjuvantes e dar total foco para os protagonistas, ou sua história nunca aconteceria.

Foi uma leitura empolgante e divertida enquanto eu era mantida no escuro do que aconteceria, quando pude prever o caminho do enredo desanimei e contemplei muitas vezes parar a leitura. Porém, só se pode tirar uma conclusão de verdade lendo até o fim, não é mesmo?

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