O estudo de personagem é uma coisa que
eu gosto muito de fazer. Como escritora, fazer isso com o perfil dos
personagens que está se criando te permite humanizá-lo, tornar seu perfil e
história base mais completos, "fechados" e críveis, e também te
mostra falhas indesejáveis para serem corrigidas.
Quando assisto algo, não consigo evitar
fazer meu estudo e observação dos personagens a partir das diferentes situações
em que eles são apresentados. Isso também os humaniza para mim, os faz parecer
mais vivos e independentes, colegas que eu convivo e estou observando para
conhecê-los melhor.
Então, eu trouxe o "Laboratório
Estudo de Personagem" para cá, dividir com vocês, não ser somente
uma coisa minha, que faço em minha cabeça.
E os primeiros personagens a passar por
nossas lentes serão os 5 protagonistas de Hospital Playlist que, quem está
assistindo sabe, possuem origens, personalidades e contexto tão diferentes
entre si quanto suas especialidades.
Vamos lá começar esse estudo?
Ahn
Jeong-Won, 40 anos, pediatra. Nosso doutor padre quase pode ser chamado de
herói. A criação com princípios cristãos o tornou um homem muito despojado de
si mesmo, sem reservas e apegos. Sua profissão de médico não é por títulos, seu
dinheiro não é para seus gastos. Paga tratamentos de pacientes que nunca viu e
ninguém sabe que é ele porque Jeong-Won não precisa da glória, do
reconhecimento. Sua vida é seu trabalho, o que mais ocupa seu coração é o
cuidado por seus pacientes, e sua vida pessoal é a mais negligenciada dentro de
todos o grupo, ao ponto de acreditar que é porque sua vocação é ser padre e não
precisa de mais nada (o que nós já sacamos que não. Falta só ele).
Ele
é fruto de uma família amorosa, calorosa e simples. Sem luxos, exibicionismos,
arrogâncias e cobiça. Era filho do diretor do hospital em que praticamente
todos seus amigos de décadas trabalhavam e nenhum deles sabia disso até o
funeral. Após a morte do pai, recusou assumir a direção do hospital. É isso que
ele é, simples, puro, gentil, aquela pessoa em sua frente, transparente, sem
máscaras e intenções ocultas.
É
o personagem que mais parece pronto, quase perfeito, não apresenta claras
características que ainda precisam passar por amadurecimento e desenvolvimento,
mas apenas parece. Pelo caminho de Jeong-Won digo que ainda precisa haver uma
mudança em voltar o olhar para si mesmo, e tantas coisas de sua vida pessoal
parem de ser tão brutalmente negligenciadas. E não estou falando dele querer
ser padre, mas de que, por acreditar nisso, fechou-se, e não permite-se
construir muitas coisas para si mesmo, como ter sua própria casa, perceber como
as pessoas ao seu redor o veem e tem curiosidade em ser mais próximas, fazer
mais amigos, sair, viajar e, até mesmo, se perguntar se realmente não tem
desejo nenhum de namorar.
Lee
Ik-Jun pode parecer engraçadinho demais, brincalhão e que dificilmente leva
algo à sério por conta de sua personalidade extrovertida e humor geralmente bom
e leve. Não é alguém leva a si mesmo muito a sério, dança e cantarola, faz
caras e bocas, tem humor autodepreciativo, se coloca em posições ridículas e
nunca se ofende.
Desprovido
de arrogâncias e formalidades sempre ajuda a levantar o astral, dissipar a
tensão e fazer pessoas se sentirem melhor, “dar lições”, tudo sem ser grosso,
mal educado e desrespeitoso. Ele é suave, parece flutuar até mesmo quando está
pesado. Ele não é a pessoa que vai descontar em você só porque está cansado e
frustrado.
Agora,
quando se trata de seu trabalho, cirurgias, pacientes e família não há pessoa
no mundo mais séria, dedicada e comprometida que ele. Realiza cirurgias longas
todos os dias, mas sabe quem são todos seus pacientes, onde estão e faz questão
de sempre os visitar casualmente, checar como estão, conversando muito mais
como um amigo que um médico, se relacionar com ele é de igual para igual.
Ainda
assim, seu filho é a coisa mais importante da sua vida. Sendo médico e pai solo
é praticamente um super homem por conseguir equilibrar as cargas pesadas de seu
trabalho e estar presente na vida do filho. Todas as manhãs o acorda, ajusta a
água na temperatura perfeita, se certifica que ele não se machuque no banheiro
por estar sonolento, faz o café da manhã e come junto a ele, avisa aos
professores cuidados especiais que devem ter, o leva para passear. Fins de
semana são todos de Woo Joo.
Por
outro lado, mesmo se mostrando um homem leve, o vejo como alguém que
secretamente “carrega o peso do mundo nas costas” tentando equilibrar tudo que
precisa ser: médico, amigo, pai, mas externamente fazendo tudo parecer
tranquilo. Nem mesmo o, para ele, repentino divórcio, descoberta de que apenas
ele estava vivendo como casado há anos, o fez diminuir seu ritmo, “perder”
tempo sofrendo, pois ele tinha o filho e isso sozinho era mais importante que
qualquer coisa e sofrimento.
3. Doutor Livro
Já
ouviu falar de “não julgar um livro pela capa”? É exatamente isso com Seok-Hyeong. Ele é como
um livro cuja capa faz você achar que entendeu tudo. É tão calado, reservado,
um pouco antissocial até, não há muito mais o que saber além disso, certo?
Errado! Simples impressões, sem conhecer o conteúdo de verdade, nunca lhe
revelarão a verdade sobre esse homem. Ficou escondida de nós até o episódio 4.
Na verdade, até lá ninguém nem sequer prestava muito atenção nele.
Parecia
uma pessoa que não se importa muito, se envolve muito menos, não permite
aproximação de ninguém, e mesmo aos 40 anos não possui segurança e nem
independência, ligando para a mãe até para perguntar o que comer e como gastar
seu salário. Mas, na realidade, é uma pessoa profunda, tão profunda que tudo
que faz tem significados, motivos, que não consegue se perceber sem o conhecer
um pouco melhor.
Como
ginecologista lida com mulheres, grávidas, partos, e o que você pensa ser a
área menos conturbada, sem casos difíceis, se engana, ele precisa tomar a
frente e encarar situações conflituosas, pesadas como partos de bebês com
anencefalia. O homem distante e frio, que está o tempo todo em seu mundo, na
realidade o mais empático e perceptivo, “pega no ar”, se preocupa com suas
pacientes em detalhes que ninguém além dele faria.
A
vida chega ao mundo pelas mãos do médico que possui a sensibilidade para isso,
que valoriza a maternidade.
O
filhinho da mamãe, que a liga todo instante perguntando até mesmo o que deveria
fazer em seu dia folga, não existe. Ele já é um homem formado e firmado, ele
não faz isso por si mesmo, e sim pela sua mãe, para que ela não desabe. Depois
da morte da filha e o marido saindo de casa ele é tudo que ela tem, e
vice-versa. Ele é o pilar da mãe.
Seok-Hyeong
é generoso demais, pouco quer para si mesmo, para trabalhar no hospital só
exigiu que a banda que tinha com os melhores amigos voltasse a existir. É
modesto, não quer holofotes e destaques. Até mesmo sua forma de sofrer e
lamentar é modesta, tanto que em vezes parece até cômico. Definitivamente um
livro que tem que ser lido até o fim para o compreender completamente.
4. Doutor
Coração
Kim
Jun-Wan é um do tipo de personagem que chama logo atenção. Bonito, competente,
bem expressivo e sem papas na língua com nada nem ninguém, ele é daqueles que
faz o tipo que passa sempre como babaca, mas é transparente o suficiente para
você saber que ele não é somente isso.
Um
cardiologista que passar por insensível, mas na verdade, por debaixo da roupa
de machão egoísta tem um coração mole e sensível que se dói pelo outro também.
Ainda assim, parece um gato selvagem irritado na maior parte do tempo. Suas
ações podem nem sempre ter um significado escondido ou são planejadas como de
outros personagens, mas ele sempre dá o seu jeito de compensar, como ter ido ao
casamento da filha de um paciente sem explicações, mesma ela o achando um idiota.
Às vezes são pensadas, como ficar se desculpando com Song-Hwa por não ter
contado a ela da traição de seu namorado, sendo que ele ordenou ao cara que
contasse a ela quando o flagrou.
Sua
maior falta é emocional. É um homem que gosta da sensação de estar apaixonado,
de estar em um relacionamento, conquistar, então está sempre em busca de um
quando conhece uma mulher que o interessa, quando internamente está buscando
preencher um vazio que sente, o relacionamento que não passará.
Essa
carência e intensidade o faz sempre acabar envolvido em relacionamentos que
claramente não vão durar e com mulheres, geralmente, problemáticas e/ou que não
estão na mesma página que ele, e isso é fato bem conhecido entre seus amigos.
Mesmo aos 40 anos, ainda não sabe como realmente recolher seus afetos que estão
por todo lado e sem ordem.
Aí
mora o seu principal desenvolvimento de personagem: a maturidade emocional.
Somente por meio de uma maturação emocional ele saberá de verdade quem ele é, e
o que quer, não mais “perdendo” seu tempo com aquilo que não corresponde ao que
realmente busca ter em sua vida.
Chae
Song-Hwa é neurocirurgiã, “canta”, toca baixo em uma banda, acampa, faz
trilhas, fala com os pais no telefone sempre, fica no hospital até tarde
escrevendo artigo, mas está sempre no horário para seu expediente. Não fica
doente nunca, não falta nenhum dia, não parece cansada nem mesmo depois de
cirurgias tão longas com as que performa.
Essa
mulher pode tudo! Sim! Ela é incrível! Sim!
Ela
é o mais próximo do que podemos chamar de super-humano, trabalha, come com os
amigos, tem tempo para se dedicar aos seus hobbies e coisas e pessoas que ama.
E tudo isso estando sempre muito bem elegante e plena.
E
é nisso que mora o a falta de sua persona: ela faz tudo. Song-Hwa é viciada em
trabalho, nunca descansa, nem sequer pensa em descansar. Se ela pode fazer
algo, por que dar essa tarefa a outra pessoa? Ela mesma pode fazer isso. E
assim seguem seus dias dentro do hospital, impressionando a todos com sua
produtividade, competência e sucesso, acumulando tarefas, responsabilidades e
negligenciando sua vida pessoal.
É
uma mulher impressionante, sem dúvidas, mas seu desempenho é melhor como
médica, dentro do hospital, na sala de cirurgia. Na vida real, na relação
pessoa com pessoa, se fica fora de sua zona de conforto não consegue mais agir
como a confiante doutora que se vê todos os dias. É como um peixe fora d’água,
tropeçando nas palavras e não sabendo como agir, evitando e jogando para
escanteio tudo o que julga não importante e dispensável no momento ou que somente
não quer encarar no momento.
Mas,
em contrapartida, é uma mulher muito corajosa e sabe escolher sua batalha e ter
certeza de não fugir.
Essa foi o nosso primeiro laboratório de estudo de personagem. Espero que tenham gostado. Quer mais conteúdo? Nos siga no instagram para ficar por dentro de todas as atualizações, lá no @blogprimeiravida.
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