Forte.
Surpreendente. No mínimo, revoltante. Essas são as palavras que imediatamente surgem
em minha mente quando penso na impressão que os dois primeiros episódios desse
mais novo drama da emissora à cabo JTBC me deixou. E se você está lendo
esse artigo já tendo assistido, sabe muito bem do que estou falando.
The world
of marriage, como o próprio nome diz, fala de casamentos, mas
não como os outros dramas, não usando a mesma linguagem e abordagem que nós já
vimos antes. Nos apresenta um casal principal, as dúvidas e desconfianças da
protagonista em meio a toda sua dedicação e genuína devoção à família, o
comportamento suspeito do marido, o filho pré-adolescente, porém inocente, os
amigos também casados e que parecem ter seus próprios problemas conjugais.
Ji SunWoo é
uma médica. É uma diretora adjunta no hospital e diariamente está lá
consultando seus pacientes e sendo a profissional que todos podem confiar para
resolver os problemas internos com a maior rapidez e competência possível. Sim,
ela é uma mulher de carreira, reconhecida e bem-sucedida. Ainda
assim, todos os dias às 17:00 ela já está fora do trabalho, na frente da escola
do filho esperando-o sair e juntos irem para casa. Lá pelas 19:00 o jantar está
pronto. É essa a hora que o marido, Lee TaeOh, um diretor de cinema ainda
tentando ficar famoso, chega do trabalho.
SunWoo é
bonita, elegante, bem-sucedida em seu trabalho, mas não é arrogante, não
negligenciou área alguma de sua vida para conseguir e manter isso. Como mãe é
presente na vida do filho, o incentiva nas coisas que ele gosta, não corta suas
asas, mas também o ensina a ter pés no chão. Como chefe de uma família sempre
cuida da casa para dar a todos um ambiente aconchegante e confortável, refeições
regadas a conversas, intimidade, proximidade. Com o marido é um suporte para o
seu trabalho, seus objetivos e sonhos, a sua maior apoiadora, e faz isso de
todo coração. Eles são próximos, íntimos, trocam carinho, se desejam.
Ela ama
aquele homem, é visível. Ama o filho que teve com ele. Ama a família que eles
formaram. Ama os amigos. Ama emprego. Sua dedicação a nada é por obrigação,
tudo é de coração.
Ainda
assim, ela foi traída.
Seu marido,
que tem uma esposa incrível ao seu lado, arranjou uma amante.
O que
SunWoo fez de errado?
Em que ela faltou?
Não chegou
a ser suficiente?
O que ela
fez que merecesse isso?
São
perguntas que surgem na minha mente e na de qualquer pessoa vendo a construção
espetacular do roteiro desse drama. Não, ele não parece ter feito nada de
errado. Ela não merece isso. Isso é a maior canalhice que já vi na minha
vida. Nós pensamos. E fazer assim, tão incisivo e duro é que faz essa obra
diferente, marcante. Nos levando a sentir e sofrer junto da protagonista é a
melhor parte disso, ao passo que desconfiamos com ela e só descobrimos as
nojentas e dolorosas verdades junto a ela. Dói, é feito de forma tão violenta e
súbita. Quebra a lógica que sem perceber construímos e nos sentimos
desnorteados, como se fôssemos assaltados, algo fora levado de nós.
Para mim,
esses dois episódios iniciais já me lançam uma reflexão que vale a pena se ter:
existe algo que justifica traição? Há desculpa, motivo?
Ousado,
corajoso, conscientizador, abridor de olhos, The world of marriage é uma
obra que se apresenta sublime, construindo-se, mostrando-se bem diante dos
nossos olhos como um quebra-cabeças, não vemos nada, aos poucos enxergamos algo
aqui e acolá porém só entenderemos tudo quando a figura estiver completa. Nos
convida a refletir sobre muito mais coisas que somente casamentos e traições.
Seu enredo e temas ressoam especialmente em mim que sou mulher. Muito mais que
uma obra que causa rebuliço no público com seus personagens de dar nos nervos
por seus desvios (e ausência) de caráter, mentiras e cara de pau, esse drama é
para nós, mulheres.
Mas isso
fica para uma próxima discussão.
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